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Review: Another Crab’s Treasure chega como o melhor indie de 2024

A primeira coisa que me perguntei quando descobri que um pequeno estúdio de Seattle estava fazendo um jogo do gênero souls em que o protagonista é um caranguejo foi: “Que? Por que? COMO?”. Bastou ver alguns trailers de jogabilidade de Another Crab’s Treasure para perceber que era um projeto com muito mais a oferecer do que apenas a piada que desperta a curiosidade inicial. O questionamento certo a se fazer sempre foi outro: “Por que ninguém pensou nisso antes?!”

Narrativa

A história tem início quando Krill, nosso querido protagonista (que é um Paguroidea/caranguejo-ermitão), tem sua vida de tranquilidade e bonança interrompida por um tubarão de plástico agiota (você leu certo). Ele descobre que o lugar onde mora é propriedade do governo local e que está devendo dinheiro de impostos para a coroa. Sua concha (que também é sua casa) é confiscada pelo esquisitão, dando início a aventura em busca de recuperá-la, e se possível, quitar a dívida. A partir daí, toda a trama do jogo se desenvolve em torno da luta de Krill para conseguir de volta seu lar, enquanto conhece novos amigos, desvenda mistérios e explora diferentes lugares pelo oceano, levando-o a entender melhor seu papel como um pequeno caranguejo na sociedade do fundo do mar.

Imagem: Xbox Originals

A premissa da narrativa é bem simples, mas agradável e satisfatória. Descobrimos novos personagens, subtramas, aspectos culturais dos lugares e personagens que conhecemos e muito mais. Tudo sob uma ótica inocente de um caranguejo que está acostumado a viver isolado na superfície dos lagos. O jogo também tem um humor doseadamente ácido, fazendo trocadilhos com palavrões misturados com palavras que remetem ao oceano e piadas leves com temas mais sérios, muitas vezes me lembrando até mesmo de Conker’s Bad Fur Day, o clássico irreverente da Rare lançado para Nintendo 64 (que inclusive rejoguei recentemente).

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Além de companheiros interessantes e antagonistas carismáticos, o jogo também traz como pano de fundo para sua história uma reflexão bem importante sobre preservação ambiental, que vai desde o diálogo entre NPCs, quando você começa a entender a relação deles com os dejetos, e até a própria ambientação dos locais, mostrando como o lixo passou a fazer parte dessa sociedade. A Aggro Crab foi sutil, mas sagaz em sua abordagem, subvertendo conceitos humanos e aplicando nesta realidade, que é fictícia, mas que representa muito bem algumas situações que acontecem diariamente no mundo real.

Jogabilidade e progressão

Pra começar, o jogo é realmente MUITO divertido. A jogabilidade mistura de maneira muito inteligente elementos de combate do gênero souls com a estrutura e mecânicas de um jogo de plataforma 3D. Os momentos tensos de luta com chefes e seções repletas de inimigos são combinadas de forma muito agradável com as mecânicas de salto, travessia vertical usando o gancho e planagem na água, o que ajuda a não deixar a gameplay monótoma e repetitiva, mesmo com a baixa variabilidade de inimigos e desafios através dos cenários.

O combate é simples, e com exceção da ausência de barra de estamina, consiste basicamente em mecânicas que já conhecemos do gênero, sendo tático e punindo o jogador por não saber tomar a atitude certa no momento certo. Krill só tem uma arma, seu pequeno garfo enferrujado que ele encontra no fundo do mar ainda no início do jogo, mas que ele pode aprimorar no ferreiro da cidade para aumentar o dano e modificar a aparência. O grande diferencial aqui são as conchas, que são o coração da jogabilidade do combate de Another Crab’s Treasure.

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Imagem: Xbox Originals

Existem 69 conchas no total para colecionar, e quase tudo é uma concha nesse jogo: latinhas de refrigerante, cascas de banana, taças de vidro e bolas de tênis – só para citar algumas. Elas tem diferentes poderes e características singulares próprias: resistência (que define sua durabilidade em combate – sim, elas quebram), atributos de status (positivos ou negativos) e peso. As conchas mais pesadas são mais resistentes, mas limitam a movimentação do personagem, semelhante ao que acontece em outros jogos souls. Durante o combate, você pode se esconder dentro da concha para reduzir o dano causado, que será quase todo transferido para a concha, protegendo sua barra de vida, mas deixando a concha mais perto de quebrar.

Os demais elementos que compõem o pequeno inventário do caranguejo consistem em Caroneiros, “parasitas” que funcionam como itens equipáveis e concedem atributos a Krill, aumentando seu ataque e defesa ou até mesmo prevenindo que você perca itens ao morrer. Também temos as Adaptações, técnicas poderosas que você aprende durante o jogo ao derrotar chefes e que causam dano massivo. Tanto as habilidades de concha quanto as habilidades adaptativas gastam sua barra de Umami, a energia ancestral presente no jogo, com a diferença de que as adaptações não dependem de concha para serem utilizadas e são igualmente úteis em combate.

Imagem: Xbox Originals

A “moeda” principal do jogo são os microplásticos, que são recebidos ao derrotar inimigos ou vender itens valiosos que você encontra explorando os ambientes. Você pode usá-los para melhorar os atributos básicos de Krill e para comprar itens, melhorias e conchas exclusivas, que não são encontradas nos cenários.

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Como em um bom souls, aqui você também é punido ao morrer – todos os seus microplásticos (e sua concha, se estiver usando uma) caem no chão e você deve voltar ao local da morte para recuperá-los. Se morrer de novo durante o trajeto, os perde para sempre. As “fogueiras” também estão presentes aqui, representadas pelas Conchas da Caramuja. É aqui que você para para descansar, olhar sua coleção de conchas e se teleportar entre áreas do jogo, ao custo de fazer renascer os inimigos que matou antes.

Você também pode encontrar pedaços de Estrela de Sangue, que vão aumentar sua vida máxima a cada vez que você conseguir juntar uma coleção de 5 partes e Brotos de Vitalga, que vão aumentar o número de vezes que você pode se curar em combate. Chefes e outros inimigos marcados com os olhos brilhando em uma luz lilás também vão derrubar fragmentos de Umami ao serem derrotados. Esses fragmentos são utilizados na árvore de habilidades de Krill, para garantir poderes e atributos extras, além de novos movimentos em combate. Particularmente falando, minha habilidade favorita é a que dá a possibilidade de Krill apunhalar uma concha com seu garfo e transformar em um martelo, causando dano massivo em combate.

Imagem: Xbox Originals

Dificuldade e acessibilidade

Como é esperado de um jogo que se apresenta como soulslike, a dificuldade aqui é acentuada. O jogo é punitivo, especialmente em lutas de chefe. Os trechos do jogo que envolvem plataformas e saltos também são ligeiramente complexos, exigindo atenção aos detalhes e na verticalidade dos cenários para encontrar os caminhos certos e progredir na história ou encontrar itens secretos.

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Imagem: Divulgação/Aggro Crab Games

O terço final do jogo, em especial, é extremamente desafiador e muito divertido, com chefes que se movimentam rápido, possuem movesets bem apelões e exigem foco e agilidade na tomada de decisões. Farmar microplásticos em alguns lugares próximos de conchas da caramuja para subir o nível dos atributos foi algo constante para enfrentar alguns inimigos na minha experiência, o que também é comum em jogos do gênero. Para aqueles que gostam de um bom desafio, o jogo é um prato cheio.. e para os que não gostam, também! Vou explicar.

A discussão sobre dificuldade é um tópico recorrente quando o assunto é souls, especialmente durante os lançamentos da FromSoftware. Enquanto na internet nunca se chegou a um consenso sobre adicionar ou não um “modo fácil” aos jogos, aqui o estúdio mandou essa narrativa para as cucuias. Another Crab’s Treasure conta com um menu completo de acessibilidade, com opções que permitem o jogador modificar o dano recebido, a quantidade de vida dos inimigos, adicionar um iFrame (frame de invulnerabilidade) na animação de rolamento e até mesmo uma concha de pistola (sim, é isso mesmo) que causa instakill nos inimigos do jogo.

Imagem: Divulgação/Aggro Crab Games

Os mais puristas com certeza vão torcer o nariz, mas eu achei intrigante a maneira como a Aggro Crab decidiu introduzir a facilitação da dificuldade e ainda ousou elevá-la a outro nível, transformando o que para muitos é “absurdo” em piada e zombando do próprio jogo (e daqueles que certamente não vão gostar disso).

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De toda forma, independente do uso dessas opções, o jogo em seu estado puro é muito acessível, até mesmo para aqueles que nunca experimentaram um jogo do gênero. Na verdade, consigo enxergar com nitidez o pequeno caranguejo se tornando a porta de entrada de muitas pessoas ao oceano dos jogos souls, especialmente dos que adoram um bom jogo de plataforma 3D. É desafiador, mas não frustrante, muito por uma escolha de balanceamento dos desenvolvedores e até decisões simples, como deixar o jogador renascer diretamente na zona de batalha ao ser derrotado por um chefe. A diversão está mais do que garantida para qualquer um, novatos e experientes, de todas as idades.

Arte, ambientação e trilha sonora

O jogo é colorido e bem bonito, o que por si só já é engraçado levando em conta o fardo que o gênero souls carrega de sempre ter jogos com palhetas de cor mais frias e mórbidas. O contraste é evidente, tanto na aparência quanto na trilha do jogo, que conta com momentos épicos como de costume em lutas contra chefes, mas é amigável em outras partes e lembra muito clássicos de plataforma dos anos 90 e 2000.

Imagem: Xbox Originals

A direção de arte é bonita, os personagens são caricatos e os ambientes são variados, com diferentes auras. Tudo conversa muito bem entre si, e a ambientação assume seu papel de te lembrar o tempo todo que você está no fundo do oceano – e não qualquer oceano, um poluído e parcialmente urbanizado. A cidade principal tem edifícios que são caixas e garrafas, as portas são cartas de baralho, as janelas são pedaços de papel rasgado e todos os elementos parecem ter saído diretamente de um episódio de Bob Esponja. Se há alguma representação que mais se aproxime da fenda do biquíni (quem não lembra dos prédios de escapamento de carro?) que não sejam as originais do calça quadrada, nós a encontramos aqui neste jogo. Trabalho incrível!

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Gráficos e performance

Graficamente, Another Crab’s Treasure é bem simples. Os modelos em 3D são básicos, mas bem feitos e toda a parte de cenários é agradável aos olhos. Algumas texturas do jogo não apresentam a melhor qualidade e ficam borradas em alguns momentos, principalmente quando a câmera está muito próxima da estrutura, mas nada que atrapalhe a experiência ou quebre a imersão. As partículas dão um toque especial ao jogo, há bolhas, lixo, folhas, peixes e todo tipo de coisa se movimentando a qualquer momento nos mapas, deixando eles mais vivos e animados.

Imagem: Xbox Originals

O jogo tem uma performance estável na versão testada (Xbox Series S), com uma única exceção: a queda de frames na transição de áreas. Foi algo que enfrentei algumas vezes durante o jogo, o que pode ser um pouco chato especialmente em uma seção de salto/combate. Tirando isso, tive apenas um bug quando após uma luta de chefe o personagem ficou congelado no mesmo lugar, mas bastou ir para a tela de início e voltar ao jogo para resolver, sem perder o progresso. De maneira geral, é um jogo bem otimizado.

Conclusões finais

Esse é um daqueles jogos que deixam o coração quentinho. Não só pela experiência do jogo, que é divertida e cativante, mas pela sensação que ele passa da paixão dos desenvolvedores quando estavam elaborando o projeto. Em algum momento do jogo você vai se deparar com um diálogo, um detalhe no cenário – ou até uma concha – que vai te fazer parar e pensar “Alguém colocou isso ali!”, que é um pensamento óbvio, mas não recorrente na indústria de jogos atual. É nitidamente um projeto que envolve muito carinho da equipe da Aggro Crab, que estão lançando apenas o seu segundo jogo como desenvolvedora.

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Imagem: Xbox Originals

O jogo tem identidade de sobra, mesmo com suas fortes (e declaradas) inspirações em outros estilos. E assim, mostrando sua excentricidade ao ponto de brincar com a própria dificuldade, se estabelecerá também como um advento de acessibilidade para quem nunca teve contato com jogos desse estilo. Combinando o desafio de um legítimo souls com as sequências frenéticas de um jogo de plataforma 3D e muito carisma, Anothers Crab’s Treasure surge da concha como o melhor jogo independente de 2024 até agora para mim.

Este jogo foi cedido gentilmente pela Aggro Crab/Popagenda. A análise foi realizada no Xbox Series S.

Another Crab's Treasure
9.0Excelente
Descrição
O "souls-like de caranguejo" como ficou conhecido na internet é muito mais que a piada. Divertido, desafiador e engraçado: tudo na medida certa.

Positivo

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  • Desafiador na medida
  • Extremamente divertido
  • Acessível para todos
  • Combina bem elementos souls e de plataforma

Negativo

  • Quedas ocasionais de FPS em transições
  • Baixa variabilidade de inimigos e desafios

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