Ao pensarmos em Akira Toriyama, Dragon Ball certamente é o primeiro nome que vem em nossa mente. No entanto, o lendário autor possui outras inúmeras grandes obras em seu currículo. Entre elas, temos Sand Land, publicado originalmente em 2000, que conta a história de Beelzebub e seu grupo de amigos.
Em 2024, mais de 20 anos após sua publicação, vemos uma nova tentativa de revitalizar Sand Land com os lançamentos da série animada e do RPG desenvolvido pela ILCA e publicado pela Bandai Namco. Enquanto o anime caminha para a sua reta final – conquistando boas avaliações, teria o game também feito jus ao trabalho de Toriyama?
História
Em Sand Land, após anos de guerras e desastres naturais, o mundo acabou tomado por um grande deserto que fez o principal rio secar, tornando a água um recurso muito escasso. A pouca água que ainda resta está sob o controle do exército real, o estado governante, que a vende a preços exorbitantes ao seu povo. O mundo que vemos aqui lembra uma mistura entre Mad Max e Fallout, com um pequeno detalhe que o difere dessas obras. Em Sand Land, humanos e demônios coexistem e buscam a sobrevivência nessa terra pós-apocalíptica.
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Nesse cenário, vemos Rao, xerife de um pequeno vilarejo, indo até a vila dos demônios buscar ajuda para encontrar um lago que ele acredita existir na região sul de Sand Land. Lá, Rao encontra Beelzebub, o protagonista e príncipe dos demônios, e seu amigo Thief que topam ajudá-lo na empreitada. Eles aceitam a oferta, pois o sucesso da missão beneficiaria também os demônios, além de igualmente dividirem um descontentamento com o exército real.
A trama de Sand Land é bem simples, algo um tanto comum nas obras de Toriyama, mas é boa o suficiente para prender a sua atenção e mantê-lo interessado até o fim. Ela também conta com algumas revelações sobre o passado deste mundo e de alguns personagens, adicionando um pouco mais de profundidade ao todo. A história do game é praticamente uma adaptação do que vemos no anime – que cobre os eventos do mangá e mais um arco próprio. Então, aqueles que tiveram algum contato prévio com Sand Land já possuem uma boa ideia do que vão encontrar aqui. Mas não se engane, mesmo sendo uma adaptação bem próxima, a história ainda reserva surpresas, pois certas mudanças são realizadas, além de algumas adições.
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Enquanto a trama de Sand Land fica apenas no bom, os personagens ocupam um papel de destaque na narrativa. O trio formado por Beelzebub, Rao e Chief são o coração da obra e a química entre eles é ótima. Não demora muito para você ter a sensação de conhecer todos muito bem e já se sentir parte do grupo. Cada um tem uma personalidade muito bem definida, o que gera ótimos diálogos e interações. Avançando mais na história, a mecânica Ann passa a integrar o time e também se mostra uma boa adição. Vale pontuar que Ann é uma personagem totalmente original destas novas adaptações de Sand Land e, mesmo assim, consegue ter uma presença quase tão relevante quanto a do trio inicial.
Gameplay
A jogabilidade de Sand Land é dividida basicamente em três pontos: exploração, combate corpo a corpo e os veículos. Nessa seção, abordarei os dois primeiros aspectos, deixando os veículos mais para frente no texto, pois merecem uma atenção à parte.
No que se refere a exploração, o jogo faz um trabalho competente. Com poucos minutos, você já é jogado no mundo e pode começar desbravar o deserto. Existem vários pontos de interesse como cavernas, ruínas e colinas para visitar. A exploração também se faz necessária, visto que você precisa estar sempre conseguindo dinheiro e recursos para realizar aprimoramentos nos seus veículos ou até mesmo construí-los do zero.
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O mapa é relativamente grande, sendo dividido em várias regiões. Pelo fato do mundo ter sido tomado pelo deserto, as locações não possuem muita variedade. Mas felizmente, sem entrar em muitos detalhes, isso muda a partir de determinado momento da trama.
Se a pouca variação de ambientes pode ser explicada pela narrativa, o mesmo não vale para os inimigos. Embora sejam legais em questão de design, o jogo conta com uma quantidade pequena deles e utiliza de reskins para tentar criar uma falsa sensação de variedade. Após algumas horas, você vai estar sempre enfrentando os mesmos raptors e pteranos, mas com cores diferentes. Isso também vale para os humanos, pois o que muda é apenas o grupo ao qual eles pertencem – podendo ser junkers, bandidos ou membros do exército.
Já o combate corpo a corpo de Sand Land é o aspecto principal menos interessante do jogo. Ele é composto por ataques leves e fortes, além de algumas habilidades especiais. Essas habilidades são desbloqueadas gastando pontos de experiência ou alcançando momentos específicos da campanha. Apesar de algumas delas serem interessantes, eu particularmente quase nunca as utilizava, porque não enxergava uma necessidade para tal. Pela dificuldade do jogo ser baixa, eu conseguia tranquilamente derrotar quase todos os inimigos apenas fazendo uso da boa e velha tática de “spammar” ataques leves e fortes. No máximo, usava a Investida que é uma habilidade em que Beelzebub aplica uma série de golpes no inimigo, causando muito dano para finalizar certas batalhas mais rápido.
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Seus companheiros também possuem uma árvore de habilidade, mas diferentemente de Beelzebub, as habilidades deles se mostraram bem mais relevantes durante a gameplay. Elas são divididas em habilidades passivas e ativas, com cada membro da equipe focando em um determinado aspecto. Rao é o cara dos combates, então suas habilidades buscam auxiliá-lo ao longo das lutas. Já as habilidades de Thief são focadas na exploração e em facilitar os ganhos de recursos e materiais. Por fim, as de Ann tem como objetivo melhorar o desempenho de seus veículos. Divididos dessa forma, o jogador tem a opção de investir seus pontos no que achar melhor.
O jogo também conta com trechos stealth e momentos em que a câmera adota uma perspectiva de jogo plataforma. A mecânica de stealth é bem simples e está presente apenas para fins narrativos. Não obstante, são as partes mais chatas e monótonas do jogo. Já os momentos de plataforma são bem divertidos, pois a gameplay segue a mesma, mudando apenas o posicionamento da câmera.
Veículos
O principal motivo que levou Toriyama a escrever Sand Land foi o seu desejo de “desenhar um velho em um tanque de guerra”. Ele nunca escondeu sua paixão por veículos. Essa paixão, sem a menor sombra de dúvidas, foi levada em consideração pelo time de desenvolvimento, devido à atenção e capricho que tiveram. Os veículos de Sand Land são o ponto mais forte de toda a experiência disparado.
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Eles estão presentes em grande quantidade e a jogabilidade de todos são ótimas – tanto na movimentação quanto nos combates. Confesso que, antes de começar a jogar, fiquei um pouco preocupado com o quão estressante poderia ser dirigir um tank por muitas e muitas horas. No entanto, para minha surpresa, pilotar um tank em Sand Land é muito divertido. Isso se deve pelos excelentes controles que o jogo possui, tornando a tarefa nem um pouco frustrante.
Além de ter vários tipos de veículos, a maior parte deles tem um papel bem definido na gameplay. O tank quase sempre será a sua melhor opção nos combates, o jumpbot é necessário para acessar locais mais altos, a moto é capaz de atravessar áreas tomadas por areias movediças e por aí vai. Essas particularidades trazem uma variedade muito bem vinda para a jogatina. Você pode “carregar” até cinco veículos no inventário sem que precise retornar a sua base. Dessa forma, o jogador pode alternar entre vários veículos diferentes num simples toque de botão, mantendo a exploração e combates bem dinâmicos. Você inclusive nem precisa sair do veículo para realizar essa troca, basta apenas selecionar o que quer.
Os veículos também possuem um alto grau de customização. Você pode evoluir o nível deles e aprimorar suas peças. A variedade de peças é bem grande, oferecendo ao jogador opções em sua montagem. Por exemplo, existem vários tipos de canhões, alguns têm mais balas “por pente”, mas dão menos dano. Existem motores que vão te dar um impulso maior de velocidade, mas o tempo de recuperação para usar o recurso novamente será estendido também. As peças possuem níveis de raridade, mas pelo fato de se distinguirem nas características, nem sempre encontrar uma peça mais rara será motivo para usá-la. Com tantas opções, cabe a você escolher as peças que melhor encaixem no seu estilo de jogo. Também é possível mudar a parte visual dos veículos, alterando cores e adicionando adesivos.
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Talvez a única consideração negativa que faço sobre os veículos, é que achei eles poderosos até demais na maior parte das vezes. Eu conseguia ficar longos períodos sem realizar qualquer melhoria, pois as batalhas eram pouco desafiadoras (problema da baixa dificuldade do jogo). A necessidade de realizar aprimoramentos aparecia apenas quando notava que estava dando ou tomando muito dano em certas lutas de chefe.
Spino e as suas missões secundárias
Pouco tempo após embarcamos na jornada, seremos apresentados a cidade de Spino. Ela servirá como sua base e seu local de descanso durante a aventura. De início, Spino é praticamente uma cidade fantasma, mas conforme você vai completando as missões secundárias, novos habitantes chegam e o local começa a crescer cada vez mais.
As missões secundárias serão a segunda principal atividade que você vai querer fazer, enquanto estiver jogando Sand Land. Embora sejam simples, elas ainda possuem uma pequena narrativa, tornando-as minimamente interessantes. Completar essas missões não beneficiem apenas Spino, mas Beelzebub também. Pois, a evolução da cidade traz novos comércios, facilitando o acesso a certos itens e materiais. Então, sempre que tiver um tempinho, converse o povo de Spino e veja o que eles estão precisando.
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O jogo também possui algumas outras atividades secundárias como caçar criminosos procurados e corridas. Conforme progride nelas, você é recompensado com melhores recompensas. Por serem atividades repetíveis, elas são uma boa opção para farmar dinheiro e experiência.
Gráficos, performance e mais
Os gráficos são bons, mas nada muito especial. No entanto, o traço característico de Toriyama está muito bem representando no game e a equipe merece elogios por isso. Sobre a performance, ela foi bastante consistente na maior parte do tempo, mas apresentou algumas quedas de quadros em certos momentos. Nada que chegasse a atrapalhar a minha experiência. Porém, por não apresentar nada de excepcional na parte visual ou no game design, essas quedas não se justificam. Uma atualização vai chegar no dia de lançamento e talvez já resolva essa questão.
Em relação a bugs, felizmente não me deparei com absolutamente nenhum em mais de 20 horas de jogo. Nem mesmo algum que fosse apenas visual. Também não tive sequer um crash. Se não fosse pelas esporádicas quedas de frames, não haveria qualquer reclamação sobre desempenho.
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O jogo conta com vozes em japonês e inglês e tem legendas em português. Ambas as dublagens fazem um bom trabalho, mas a sincronização labial das falas na versão americana deixa um pouco a desejar. Na dublagem japonesa, não notei o mesmo problema.
Considerações finais
Sand Land é um título que entende muito bem o material original e faz um trabalho ímpar em adaptar a criação de Toriyama. Entretanto, o jogo comete alguns deslizes que o impedem de ser mais do que apenas um bom RPG de ação e aventura. De toda forma, o carisma dos personagens principais e a ótima jogabilidade dos veículos transformam Sand Land em uma experiência que vale sim a pena tanto para os fãs quanto para pessoas que querem ter o primeiro contato com a franquia.
Este jogo foi gentilmente cedido pela Bandai Namco. A análise foi realizada em um Xbox Series X.
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Sand Land
Descrição
Baseado na obra de Akira Toriyama, Sand Land é um RPG de ação e aventura desenvolvido pela ILCA. Acompanhamos a jornada de Beelzebub e seus amigos em um mundo pós-apocalíptico tomado pelo deserto.Positivo
- Muito fiel à obra original
- Ótimos personagens
- Grande variedade de veículos e customização
Negativo
- Combate corpo a corpo poderia ser melhor
- Dificuldade muita baixa
- Momentos em stealth são fracos e desinteressantes