A franquia Assassin’s Creed vai completar 20 anos em breve. Ao longo desse tempo, tivemos altos e baixos, desde jogos com pouca inspiração e criatividade até títulos incríveis, com personagens marcantes e histórias envolventes. Assassin’s Creed Origins trouxe uma mudança necessária, focando na origem da ordem dos assassinos e introduzindo um aspecto mais RPG, gênero que já fazia e ainda faz sucesso. Depois, Odyssey, desenvolvido pelo mesmo estúdio de Assassin’s Creed Shadows, abraçou completamente essa fórmula. Particularmente, não gosto do Odyssey, acho um jogo maçante, repetitivo e excessivamente inflado. Valhalla seguiu o mesmo caminho, embora com mais êxito, mas ainda que sofrendo com os mesmos problemas. Agora, quase oito anos após Origins, Assassin’s Creed Shadows dá um passo na direção certa para a franquia: menos RPG e mais ação e aventura.

O anúncio de Shadows foi conturbado, mas o jogo vem como uma grande aposta da Ubisoft para voltar a produzir títulos de qualidade. Com base nas minhas 60 horas de gameplay, compartilho minha análise sobre esse jogo ambientado no Japão Feudal.
Enredo, quest design e personagens
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Fico feliz em dizer que Assassin’s Creed Shadows tem um foco maior na narrativa do que seus dois antecessores. As escolhas de diálogo foram reduzidas, embora ainda existam. Aqui, temos dois protagonistas fortes e distintos: Yasuke, um samurai que vem de terras distantes em busca de autoconhecimento e redenção, e Naoe, uma shinobi determinada a se vingar e restaurar a paz em sua terra natal. Juntos, formam uma aliança improvável para eliminar os Shinbakufu, recebendo uma lista de alvos ao longo do jogo. A motivação de Naoe é pessoal, e a história parte desse ponto. O enredo é sólido, ainda que o conceito de eliminar alvos já tenha sido explorado em outros jogos da franquia. Não é nada novo, mas os personagens e suas motivações são interessantes o suficiente para manter a história intrigante de acompanhar, e a forma como a história é contada visualmente eleva a experiência.

A composição visual do jogo é excelente, talvez uma das melhores da série. A Ubisoft Quebec utiliza bem a câmera e a direção de arte para criar momentos épicos, potencializados por uma trilha sonora incrível. Yasuke e Naoe são bons personagens e compartilham bons momentos juntos ao longo do jogo, com missões em que vão se conhecer e firmar sua amizade. Senti diversas vezes que a história parecia ser mais centrada na shinobi. O arco de Yasuke é bem desenvolvido e muito bem concluído ao longo do jogo, mas a jornada de Naoe se destaca, pois ela é a assassina e o alicerce principal da história.
Além disso, Shadows conta com um sistema de recrutamento e romances, e algumas missões secundárias são excelentes, principalmente as de Yasuke. Os personagens secundários desempenham um papel importante no desenvolvimento dos protagonistas.
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O jogo é menos RPG do que os anteriores pela presença da já citada redução nas escolhas de diálogo e protagonistas que falam e pensam por conta própria. Algumas escolhas impactam a narrativa, ainda que não de forma tão profunda quanto em outros grandes RPGs. Um exemplo interessante foi uma missão em que precisei me infiltrar em uma casa de chá. Antes disso, escolhi um vestido chinês (entre outras opções), bem bonito, mas, ao chegar lá, descobri que a vila valorizava tecidos portugueses. O resultado? Naoe levou uma boa gastação. E, claro, há escolhas ao longo do game que são mais graves, como acusar alguém. Para aqueles que preferem uma experiência mais linear ainda, existe um modo canônico que elimina escolhas e foca totalmente na narrativa.
O quest design é batido, é aquele mesmo de todos os Assassin’s Creed recentes. É um pouco decepcionante, principalmente depois de anos com a mesma filosofia de quest design. Mas tudo bem: as missões são boas e divertidas o suficiente para manter um loop de gameplay. Você vai matar muitos alvos, saquear castelos e fazer missões secundárias de personagens que vai conhecer. Terminei em 60 horas e ainda tenho missões secundárias para fazer.

Cada protagonista tem missões e romances exclusivos, e as missões sobre os protagonistas são muito boas (algumas das mais épicas do game). A Ubisoft Quebec soube lidar bem com dois protagonistas, principalmente nas diferenças de gameplay e história. Eles vêm tentando aplicar esse experimento desde Syndicate, passando por Odyssey e finalmente em Shadows, onde realmente funciona. As expressões faciais são bem complicadas. Embora funcionem nas cutscenes e não prejudiquem a experiência cinematográfica, alguns NPCs têm péssimas expressões faciais. Os personagens mais recorrentes nem tanto, mas está longe do ideal.
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Gameplay, stealth e mundo aberto

A jogabilidade é um dos pontos mais altos de Assassin’s Creed Shadows. O jogo é mundo aberto, com quatro estações que alteram constantemente o cenário (e são maravilhosos). Existem diversas missões onde você pode escolher com qual personagem jogar.
Os dois personagens possuem estilos distintos:
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- Naoe foca em furtividade, sendo a assassina mais ágil da franquia. Ela utiliza o árpeu para subir rapidamente em prédios, e suas movimentações são fluidas e novas. Jogar com ela é a experiência clássica de Assassin’s Creed.
- Yasuke é um tanque em combate corpo a corpo. Ele é ideal para batalhas contra múltiplos inimigos e invasões diretas aos muitos castelos que Shadows tem.
Embora prefira a Naoe, Yasuke tem uma gameplay muito divertida. Joguei bastante com ele ao longo do game e ele é muito mais útil que a Naoe em certas situações. Os dois personagens têm contrastes suficientes para tornar a gameplay interessante e fazer você usá-los em momentos diferentes. Yasuke tem um parkour bem mais limitado que a Naoe e se ele cair no feno, o feno vai voar para tudo que é lado e vai inutilizar o feno. Se a Naoe tentar carregar um corpo, vai andar bem mais devagar que o Yasuke.

O jogo melhorou significativamente o stealth no lado de Naoe, permitindo que o jogador ande, agache, deite, e utilize ferramentas diversas, e mais. A escuridão é um fator importante agora, tornando a visibilidade da Naoe mais difícil para outros personagens e é um fator novo que contribui muito para o stealth. A furtividade está melhor do que nunca em Shadows.
O combate mantém a base dos últimos títulos e é bom e divertido. São muitas habilidades pra complementar o combate. Existem jogos da mesma temática com um combate melhor, mas de qualquer forma, a variedade de animações novas e finalizações torna a experiência satisfatória. O parkour é um dos mais bonitos da franquia, com diversas novas animações que deixam a experiência muito interessante. Não tínhamos um Assassin’s Creed tão gostoso de jogar desde Unity.
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A progressão é bem estruturada, sem a exaustão de Valhalla. Os pontos de maestria desbloqueiam novas habilidades e golpes, divididos em ranques. Para avançar nos ranques, é necessário completar minijogos e atividades secundárias, o que incentiva a exploração.

Shadows também introduz um sistema de esconderijo, semelhante ao de Fallout e Starfield. Os cômodos vão dar benefícios a sua gameplay e aprimorar esses cômodos também. Além disso, você pode construir estradas, colocar objetos de decoração e se você encontrar pets durante a sua jornada e fazer carinho neles, o jogo vai deixar você colocar uma “cópia” do pet no seu esconderijo. Além disso, você pode personalizar o interior dos cômodos. Você pode colocar um cômodo vazio e decorar ele do jeito que quiser, inclusive com pinturas que você ganha ao fazer atividades durante o mundo aberto. Alguns itens cosméticos naturais são afetados pelas mudanças de estação. Uma árvore pode perder as folhas ou florescer dependendo da época do ano.
O mapa é condensado e é um dos mapas mais densos da franquia. São milhares de árvores no mais distante horizonte, a Ubisoft caprichou no draw distance. O mundo aberto está recheado de missões secundárias, atividades, colecionáveis e pontos de sincronização. Existem NPCs que você pode encontrar na sua jornada que podem estar sofrendo algum tipo de abuso, você ajuda e o NPC te recompensa com um rumor do mundo ou outro tipo de recompensa. O detalhe que mais me agradou: não é exageradamente grande igual o Valhalla ou Odyssey.
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Gráficos, trilha sonora e direção de arte

Assassin’s Creed Shadows apresenta belíssimos gráficos e uma direção de arte impressionante. As quatro estações adicionam dinamismo ao jogo, transformando constantemente o ambiente. A trilha sonora é um dos pontos altos do jogo, com composições marcantes e até músicas próprias para as lutas de chefe.
A dublagem PT-BR é boa com ótimas vozes, mas existem muitas vozes repetidas ao longo do jogo. Existem alguns erros de digitação no texto traduzido também.
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É a mesma engine com melhorias, mecânicas novas e animações novas. Eu tive, no geral, uma experiência muito boa. Encontrei pouquíssimos bugs na versão de Xbox – é um dos Assassin’s Creed mais bem otimizados que já joguei. Os adiamentos tiveram um papel importante nisso, dando à equipe mais tempo para finalizar e polir o jogo. O resultado é que, pela primeira vez em muito tempo, sinto que estou jogando um título da Ubisoft verdadeiramente finalizado.
Vale a pena?
Assassin’s Creed Shadows não é o jogo que vai mudar a história da Ubisoft, mas é um passo na direção certa para a franquia. Embora ainda carregue características da era RPG, sua ênfase na ação e aventura me lembrou o que é essa série. A jogabilidade refinada, a excelente direção de arte e a maior atenção à narrativa fazem dele um dos títulos mais interessantes da série nos últimos anos. Existem defeitos e comodismo, mas que não incomodam ao ponto de reduzir a experiência de um ótimo jogo e muito divertido.
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Descrição
"Assassin’s Creed Shadows é um passo na direção certa para a franquia. Apesar de alguns tropeços ocorrentes na própria franquia, tem um foco maior na narrativa, personagens carismáticos e uma gameplay mais equilibrada entre ação e stealth, o jogo entrega uma ótima experiência.Positivo
- -Protagonistas fortes
- -Gameplay variada e dinâmica
- -Trilha sonora incrível com música própria
- -Gráficos lindos com uma ótima direção de arte
- -Stealth excelente
Negativo
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- -A filosofia de quest design é repetitiva e acomodada
- -Expressões faciais ruins
- -Alguns poucos bugs